domingo, 30 de março de 2014

Every person alive is everyone who's died


Quando acordei e era meu aniversário, não sabia que iria morrer. Foi um dia como outro qualquer, exceto pelos telefonemas recebidos, abraços apertados, mensagens de carinho. Provas de que, em meio às xícaras de café que sempre me acompanham, há vida. À noite, quase na hora de dormir, eu morri. Foi doloroso. A morte veio me levar com ela de repente, logo depois de vestido o pijama e de frases banais ditas ao acaso.
Você nunca está pronto para a morte. Você pode sofrer uma doença terminal e o fim pode estar ali bem na sua frente. Mas quem deseja encarar o fim? Quem o aceita com paz, plenitude, serenidade? Eu não. Briguei com a morte. Enfrentamo-nos: gritamos uma com a outra, falamos tudo o que estava engasgado há anos, falamos até mesmo o que não devíamos. Nesse momento de disputa, o que menos existe é pudor, censura, cuidado. Enfrentei, primeiramente em horas e depois durante dias, todas aquelas fases do luto – do meu próprio. Neguei, senti raiva, tentei negociar com Deus, com os espíritos, com as cartas; deprimi. E, por fim, aceitei que sim, a morte havia vencido.
Depois que você vive todas essas fases, morrer não é de todo ruim. Porque a morte não é o fim. Porque depois que você morre, você renasce. “Toda pessoa viva é alguém que morreu”. E você renasce um pouco mais sábio. Também com um pouco mais de força e de esperança. E isso é bastante surpreendente, pois você tem todos os motivos para não acreditar mais, para não confiar mais. O renascimento é um processo repleto de luz. É revigorante. Tudo fica para trás. Ficam apenas lembranças, pequenos flashes da sua vida passada. Tudo se renova.
Escolhi muito bem o dia do meu renascimento: 5.3. Resolvi marcá-lo bem. Tatuei na pele os números que trouxe da outra vida, mas que ganharam nesta outro significado. São números que serão, agora, celebrados. Recomecei novamente e resolvi deixar isso claro para o mundo. Comprei roupas novas, cortei o cabelo. Faço agora o que gosto, leio o que desejo, escuto o que eu quero. Olho para quem me dá vontade. Não preciso mais fingir. Eu trouxe a mim mesma para esta nova vida. Era tudo o que eu precisava salvar. E eu salvei.
Agora, diante do desconhecido, eu danço. Posso errar um passo, tropeçar logo mais. Mas eu danço. Eu olho para cima e enxergo olhos verdes de esperança. Eu danço para eles – e não me importo se novos olhos me acompanharão. Porque agora a música é minha.